Roubaram a juventude



Não faz taaanto tempo assim... ainda lembro que sair descalço na rua, tomar banho de chuva, brincar sem os pais verem perto de casa, sair correndo por aí não era tanto um problema de segurança quanto é hoje... Acho que muita gente ainda sente falta destes momentos. Brincar com os vizinhos, brigar (tb faz parte da idade), fazer planos, imaginar, querer ser grande..

Essas coisas que marcam NOSSA infância.. isso mesmo.. a ênfase em NOSSA é porque quem lembra disso pode desfrutar de tais momentos inesquecíveis que construíram quem somos nós agora. E quando vemos as barbáries que acontecem na TV (do jeito que querem mostrar) envolvendo menores (e crianças) em violência, roubo, tráfico de drogas.. "Mas são menores e não podem responder legalmente" (...) "...16 anos, mal acabou de sair da infância.." (...) "... nem sabem direito o que estão fazendo..." Estas coisas até poderiam ser verdade... claro que julgamos os outros pelos padrões que aprendemos em nossas vidas. NOSSAS. Lembremos sempre que a natureza é única em cada indivíduo, e cada pequena variação provoca efeitos grandiosos, vindo do caos na dependência de cada caminho tomado. Assim, lembremos que se pequenas diferenças no crescimento de cada um faz um adulto completamente diferente, então uma criança que foi concebida, nasceu e cresceu numa realidade paralela, mas diferente, à nossa, não pode, nem consegue, ver o mundo da mesma forma que vemos apenas com NOSSOS olhos. Pensando nisto, se no nosso mundo a maioridade é alcançada entre os 18 e 21 anos, para as pessoas que cresceram num mundo diferente (mas próximo ao nosso), quando a infância acaba? Ou a pergunta mais precisa seria, "Há infância?"


Essas coisas deveriam nos deixar perceber que o mundo que vivemos não é totalmente igual ao mundo que as pessoas ao nosso redor vivem. Percebamos mais os outros como indivíduos, e não como meras projeções de nós mesmos.


Muitos, na infância, lavavam a louça, arrumavam a própria cama, em troca de alguns trocados para gastar com doces, revistinhas e jogos. Muitos, na infância, catavam (e catam) lixo para poder ter uma refeição durante o dia, ou uma 'durante dias'.

A classificação hierárquica cultivada pela nossa sociedade nos pôe numa posição de falsa segurança, e falsa irresponsabilidade. A hipocrisia em pensar que não somos responsáveis com essas sociedade, criada pelo modelo atual de comportamento guiado pela falta de estrutura na educação (para todos) e da falta de interesse real em difundir o bom senso humano pelas vias de comunicação, nos faz passar pelas pessoas na rua e virar a cara. Ir em direção a alguém, que está andando sem prestar atenção no caminho, e esperar que ele desvie de nós, como se tivessemos direitos maiores em andar por aí.

Talvez muitos de nós tenham sido precipitadamente julgados como seres humanos, enquanto ainda preservam muitos dos institos animais e obedecem, assim, às leis da selva - disputando por espaço, medindo-se por força, marcando território, comunicando-se aos urros, forjando o respeito através do medo.

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