Fomos alí e voltamos

Hoje perdi o sono. Lembrei-me que sou um ser humano.

A noite nem começou e já tinha acabado, o que parecia ser o início de um sono tranquilo foi embora sem deixar motivo nem se explicar.

Ao lado da esposa, passam idéias de como voltar ao merecido descanço, mas nos esquecemos de algo, e pouco a pouco pareciamos lembrar que do que faltava.

Fomos alí nos olhar. Dedilhamos algumas estrelas, umas brilhantes, outras mais escondidas e uma bem vermelha, Antares. Tentamos alcançar para saber se era longe de casa, e sem sair de casa vimos que aquela grande estrela vermelha, umas setessentas vezes maior que a nossa, morava aqui pertinho na nossa vizinhança, lá onde pensavamos ser longe, não era nem de longe a metade do caminho para as bordas da via láctea. Foi neste momento que percebemos que tudo o que olhavamos acima, tudo que parecia tão inalcançavel, estava, de fato, viajando conosco no mesmo endereço, na mesma galáxia, pois o que imaginamos ser algo tão fora da nossa realidade era apenas um dos enormes braços que giram lentamente, nos levando pelo infinito universo, nos levando desde antes de ousamos existir. E fomos lá longe para ver a beirada do nosso quintal.

Parecia que podiamos olhar lá de longe até nossa casa, e vimos como é preciso tão pouco, tempo e espaço, para fazer toda a história nossa e da humanidade pois, foi assim que percebemos, lembramos o que já ouviamos outra vez, que nossa galáxia é apenas uma entre infinitas.

Não demorou muito, estavamos comparando formas, cores, temperaturas, lembrando da nossa estrela mais próxima, questionamos suas cores e lembramos que estava perto de poder senti-la aqui mais perto. Já em casa, ainda olhando pela janela, voltamo-nos de cima para o horizonte, mais ao Leste, e percebemos que alí fora o Sol já dava recado que não demoraria a aparecer. E depois de termos viajado toda a galáxia sem sair de casa, saimos de casa para ver o sol nascer por trás do mar. Recebidos pelas ondas mornas da praia do Cabo Branco, que de longe é verde, mas de perto ficamos mais atentos aos tons avermelhados e amarelados que o Sol pintou nas núvens pouco antes de aparecer.

Agradecemos a recepção, lavamos novamente os pés para deixar o mar nos sentir, e voltamos para casa, depois de alguns momentos, pouco antes de entrar, o som de filhores de passarinho, que a mãe acolheu e escondeu dentro da caixa do medidor de energia. E esses pequenos 'irracionais', que até se calavam quando percebiam que não era a mãe que se aproximava, depois que deixamos livre o seu lar, a mãe veio revisar todo o ambiente, para ver se não tinhamos deixado ou tirado nada, para então cuidar dos pequenos novatos no endereço intergalático, que também chamamos lar. E nosso dia comaçou assim, depois de passear por toda galáxia, voltamos pelo mar vendo o Sol nascer e chegamos em casa cedo vendo a vida acontecer.

Acho que foi mais ou menos aí, ou algum tempo depois, e às vezes até a gente se esquece, mas sempre que temos esta felicidade do imprevisto, e nos deixamos lembrar que ainda somos seres humanos.

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