Acalanto para Carlos

Todos olham para a criança frágil, aquecida pelo afeto, em braços que a cercam de carinhos e de mimos. O recém-nascido é limitado nele mesmo. Quem entende a vida? No entanto, a vida existe vibrante nesse menino definitivo. O Amor cria o inesperado, o impossível de compreender: a pessoa, síntese do cosmos nunca decifrado. Essa criança nos tem nela, ela nos envolve, ela nos acaricia os olhares, ela faz calar a pretensão em recitá-la. Sim, porque nem a poesia mais bela seria capaz de expressar a intimidade da inocência.
Ele não pediu para vir nos conhecer. Trouxe, porém, toda uma expectativa de sonhos, de futuro, debrilhos, de sopros, melodias, encantamentos, enigmas, interrogações. Ele está deitadinho no berço e nos torna perplexos diante de sua presença ansiada. O pai e a mãe participaram na concretização do mistério, dentro dessa harmonia que centra todo o universo na fragilidade, na fecundação de uma pessoa, um novo ser.
Carlos é único, inimitável, inconfundível. Sua personalidade vai se formando, seu espírito, em consonância com a potência do corpo, pouco a pouco, assume os voos de um tempo somente dele. Crescerá em estatura sabedoria e graça, como tão bem expressa o evangelista Lucas com relação a Jesus (Lc, 2,52). Ninguém nascido de mulher é um robô. Um artefato programado. Uma peça agregada às benditas entranhas da genitora, como defendem os partidários do aborto, mas um ser brotado das raízes de uma expressão de amor, a multiplicação da imagem e semelhança de Deus. Carlos veio à luz. Minha filha lhe deu à luz. Verdade contida no Evangelho lúcido, nas palavras de Mateus: “Vós sois a luz do mundo (…) assim brilhe vossa luz diante dos homens (Mt, 5,13.16). Luminosidade de um casal que se funde e se confunde: Marcos e Terezanísia.
Carlos, não podes escutar a voz de nossos corações alvoroçados. Tudo te parece penumbra, os sons te chegam como o ciciar de um regato. Sobre ti, nós estendemos o abraço sutil, o agasalho de nossa felicidade em poder contemplar tua face. Da tua expressão inocente colhemos o sabor do saber emanado do maior dos mistérios: o da Vida em profusão contida no teu sereno acordar para este mundo. Nele há macios bosques e rudes desertos; risonhas flores e sisudas plantas espihosas; portas fechadas e janelas abertas; feridas doridas e outras cicatrizadas; sorrisos doces e lágrimas amargas. A vida neste planeta, Carlos, é um misto de claridades e sombras. A luz prevalecerá. E todos nós nos alegramos, ruidosamente, com imensa emoção, felizes em receber-te!
Os hojes e amanhãs se abrirão como caixinhas de surpresas. Delas sairão a ventura e aventura de mais um dia a ser vencido. Que Deus te proteja, sempre.

José Leite Guerra
Publicado no Jornal Correio da Paraíba (03 de Abril de 2011)

Agradeço ao sogrão, vovô coruja, pela grandiosa homenagem ao nascimento do meu filho. Estamos aprendendo agora, eu e minha esposa, a viver uma nova fase do nosso casamento: a doação. Nada de hora marcada, nem 'espera mais um pouco', a nova vida pede nossa total disposição para trilhar estes primeiros passos, aos braços. A recompensa: toda uma vida de incontáveis, incontroláveis e inesperadas experiências.

Comentários

belo texto.. bela homenagem...

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