A morte necessária


Estranha é a certeza de que todos fugimos. A certeza de que a vida é finita enquanto matéria. Se para alguns faltam algo a mais para definir a continuidade, deixando-se levar pelo conformismo de que a própria existência é casual e finita, para outros sobram glórias ou castigos que irão acompanhar a eternidade do pós-vida, e mesmo assim tendem a fugir do inevitável.

Passar vida toda buscando o sentido de cada uma das nossas escolhas pode ser uma forma de desistir da vida. No entanto, deixar que o acaso seja a única regra de sobrevivência não parece ser algo muito instigante. Dar sentido às nossas escolhas parece ser um caminho promissor. Cada indivíduo tem o direito de escolher o próprio caminho mas, no destino de cada caminho reside o inesperado.

A lagarta morre para tornar-se borboleta. A semente morre para tornar-se árvore. Tantas outras formas finitas de existência dão lugar a uma continuidade que mais parece uma simples transformação no caminho.

Quando crescemos com saudade da infância, algo foi perdido. Se esperamos morrer e encontrar a satisfação é porque, também, não estamos dando valor à vida. Cada fase da existência precisa ser curtida em sua plenitude, pois desta forma estaremos prontos para passar à seguinte.

Entender que temos um tempo finito, incalculável e imprevisível, para existir é importante para fazermos as escolhas necessárias. Sempre que deixamos algo para depois corremos o risco de não podermos realizar o que foi esperado. Como esperar para pedir desculpas, ou perdoar, se não sabemos o que pode acontecer nos próximos instantes.

Realizar, comemorar, viver a vida. Problemas, bobagens e picuinhas, tornam-se ínfimos quando nos despimos de toda vida que esperamos ter. A morte dá sentido a vida no momento em que percebemos o valor das coisas no contato humano, e não no interesse egoísta. 

Se não vamos levar nada nas mãos, guardemos as coisas mais valiosas da vida na memória. Nossas experiências positivas, e até mesmo as negativas que nos fizeram crescer, é o que realmente teremos para compartilhar enquanto estivermos vivos, e é o que nos fará eternos nos corações dos que ficarem.

A morte é a ferramenta que a vida usa para tornar-se eterna. A humanidade persiste, adapta-se, com a presença da morte permitindo que uma nova vida brote adaptada para os novos desafios.

A morte é essencial até para que saibamos que cada um tem seu lugar, não só no espaço, mas também no tempo.

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