Excluídos

Como reconhecemos o que é bom ou ruim? Na natureza, alguns filhotes aprendem desde o que é perigo até hábitos alimentares observando os pais. Esta é uma forma natural de educação, a da proteção e sobrevivência.

Na nossa sociedade, encontramos outro tipo de ensinamento, o do que é bom e o que é diferente. Certos ensinamentos são passados de forma tão despercebida que se torna algo automático, e podemos até nos comportar de forma inesperada aos nossos próprios princípios. Por exemplo, algo que não é dito, mas perceptível: ame o seu próximo, se for conveniente. Nesta frase usem-se dois extremos como se fossem quase sinônimos, o amor e a conveniência.

Dependendo da formação cultural e educação, certos ensinamentos podem ser passados de forma precipitada, criando preconceitos errados, nos filhos. Isso na sociedade humana, ou seja, no mundo não natural. Sendo assim, encontro uma das várias formas de exclusão: não ter cultura, ou educação, é ruim.

Outro dia ouvi uma mãe esbravejando, ou melhor, perdendo o controle aos gritos, com o filho, na praça: "Se oriente, tá parecendo um doido!". Ou seja, para ela, ser doido é ruim, e não merece o carinho da mãe.

Voltando ao passado, na época do nazismo, muitos alemães conseguiram escapar do clima pesado de sua terra natal. Aqui no Brasil, eram taxados de nazistas, e não de exilados alemães. Assim, todo alemão é nazista. Já entramos em outra forma de discriminação, a generalização. Aproveitando esse tipo, lembremos que o brasileiro não é bem visto em grande parte do planeta. E o brasileiro não costuma aceitar as diferenças da própria terra. Excluindo seu próximo de acordo com o estado, ou região, de origem. Mas nem sempre isso é recíproco. Muitos estados menosprezam os seus, e aceitam tudo que vem de fora. Não entendo esse tipo de autoexclusão, mas acontece bastante. Aparentemente, o Brasil fica dividido entre a terra da diversidade e a terra da exclusão. Quer ver o povo se unir? Promova qualquer coisa na TV, e diga que todo mundo concorda, e muita gente vai sair na rua festejando.

Certas diferenças até ganham crédito na política, e leis de segregação são criadas. Quem se beneficia agradece, os outros são obrigados a aceitar os novos termos legais, ao invés de simplesmente ter sua educação acrescida de novos conceitos.

É complicado até discutir idéias, pois se duas partes discordam de algo, ou vira tumulto, briga de estádio ou passeata. Ambos querendo que o outro ceda, ao invés de aceitar que o diferente existe, simplesmente. Por isso, que se diz "Certas coisas não se discute: religião, futebol e política", ao invés de aceitar o outro, queremos mudá-lo. Mas essa lista tem aumentado dia após dia, e a discussão exite, mas ao invés de somar idéias, tem criado novas leis. Daqui a pouco teremos voltado à ditadura, mas de forma legal, sem necessidade de golpe.

Desta forma os problemas mais urgentes são deixados de lado, discutindo idéias, voto, torcida, opção. A pior discriminação que acontece nos dias de hoje, e que é a mais vergonhosa, é a exclusão do pobre. Isso ocorre entre estranhos, famílias, cidades, estados, países, continentes, extremos. Não aguento falar da manipulação genética de alimentos usando o velho argumento de acabar com a fome. Isso é mais velho que a promessa de água em locais desertos. Qualquer pessoa sabe que maior parte da tecnologia que é desenvolvida é para virar brinquedo ou arma. A tecnologia agrícola é tão antiga que não há argumentos lógicos para justificar as condições precárias em certos pontos do planeta. Se a própria sociedade quer que o pobre desapareça, como é que as empresas, indústrias e governo vão ousar pensar em soluções reais para este problema.

Outro dia, ouvindo por aí: "- Menina, se aquieta! Tá parecendo que é da favela". Sendo assim, mais uma criança vai crescer acreditando que ser pobre, e ser da favela, não dá dignidade de ter respeito pela mãe. E assim vamos mal utilizando a maior forma de passar o conhecimento da humanidade, a educação doméstica, passada de pais para filhos.

Sim, atrás daquele arbusto seco, mora uma pessoa.

Se alguém sentir falta de eu ter comentado sobre o negro, é que acho ridículo ainda existir este tipo de exclusão. Principalmente no BraZil, onde todos somos, brancos, loiros e de olhos azuis.

Comentários

Postagens mais visitadas