O que falta...

Estive lendo, como de costume, o Blog do Miro:

Altamiro Borges: Ricaços e estrelas na máfia dos carrões: Por Altamiro Borges Uma mega-operação da Polícia Federal resultou na prisão, nesta sexta-feira (7), de 13 pessoas suspeitas de usarem um e...

Então fui refletindo...
Atualmente, costuma-se venerar o que julgamos inalcançável, ou quase, desprezando o comum, o próximo. Fui comprar pão, ontem, no final da tarde, e tantas pessoas na calçada, disputando o resto de espaço que sobrava, desdenhado pelos carros estacionados.

Colocar um carro em movimento é um direito.
Dirigir bem é privilégio. ('bem' é diferente de 'imponente')
Colocar o carro em qualquer lugar, todos podem.
Estacionar, definitivamente, é uma arte para poucos.

Cada pessoa, no seu mundo, ou no celular, disputando, a passos largos, a pole position rumo ao desconhecido destino da calçada pública. Padaria, supermercado, farmácia.. são tantos destinos, mas quem chegar primeiro tem a vantagem, sobre o outro. Não seria sobre si mesmo? O prêmio é não ter ninguém na sua frente? Se todos ganhássemos essa corrida imaginária, viveríamos, sim, cada cabeça um mundo.

Caminhando, voando alto, vendo pessoas se desviando, buscando brechas para ultrapassagem. Imaginei se, na calçada, tivesse alguém bastante conhecido (da mídia). O movimento caótico, provavelmente, seria transformado em fila. Até procurei se, por acaso teria alguém mais respeitado (pois respeitáveis somos todos) nesse mundo compartilhado da calçada. Vi um casal idoso, cabelos brancos, mãos dadas, caminhando tranquilamente. Reduzi o passo e apreciei, desejei alcançar esta vitória bela: vida longa e amor presente. Duas coisas que não se compra com nada.

A vida, inegavelmente, só tem um sentido, regido pelo tempo, determinado pelas escolhas. Podemos viver a cada dia, ou escolher desejar viver só lá na frente. Podemos viver ações, ou viver planejamentos. Uma coisa não podemos escolher, o que aconteceu já passou, e o que nos sobra é a partir de agora em diante.

Essas coisas complexas, aparentemente desconexas do mundo moderno, mas tão entrelaçadas que é difícil fazer relações mais amplas entre elas. Tão comum que é difícil percebe. Cenas soltas. Um carro avançando na faixa de pedestres, buzinando para pessoas que caminham devagar, corridas na calçada, julgamentos em vila de supermercado, impaciência na padaria. Os detalhes tão presentes no cotidiano, que já aceitamos conviver com tantas coisas dispensáveis de uma vida mais tranquila.

Conversando com minha esposa, na praça, levando nosso filho para passear, aproveitando o sol. Alguém, estranho, passa e comenta: "Você viu? Aquela mulher ganhou um carro.."

¬¬

Sinceramente, eu nem tinha visto o movimento que se dava na esquina do quarteirão ao lado. Estava brincando de dar risadas com um garotinho muito fofo. Apenas consegui responder, depois de alguns segundos me orientando: "É?... Ah...". E voltei à diversão, acho que tive a expectativa de algum comentário mais imaterial, alguma experiência a compartilhar. Aquela senhora vinha com um sorriso tão alegre, mas não pude compartilhar da mesma apreciação, tinha vida acontecendo próximo a mim.

E a história dos carros.. foi embora. Tudo isso lembrei de tão recente, devido a uma frase que vi rapidamente, pela cidade, e comentada por um Padre durante uma reunião de Crisma, ano passado. A frase estava pichada numa parede pela cidade: "O que sobra na sua casa falta na minha". Então, qual a relação dessas coisas todas juntas numa mesma postagem?

Comentários

Postagens mais visitadas